
Bebês Reborn: Uma Febre de Brincadeira que Virou Doença
O que começou como um hobby artístico e uma brincadeira aparentemente inofensiva virou tema de debate entre psicólogos e especialistas em saúde mental. Os bebês reborn — bonecos ultrarrealistas que imitam recém-nascidos com impressionante fidelidade — ganharam o coração de milhares de pessoas ao redor do mundo. Mas até que ponto esse apego é saudável?
A origem da febre
Os primeiros bebês reborn surgiram nos Estados Unidos, na década de 1990, como uma forma de customização de bonecas. Artistas usavam técnicas minuciosas para criar detalhes hiper-realistas: veias, marcas de nascença, tons de pele variados, cabelos implantados fio a fio. O objetivo inicial era produzir verdadeiras obras de arte.
Com o tempo, essas bonecas passaram a ser vendidas online por valores que ultrapassam os milhares de reais. Desse modo a demanda cresceu e o público também mudou: o que era voltado para colecionadores virou objeto de desejo de crianças, adolescentes e até adultos em luto.
Muito mais que brinquedo
O que chama atenção é o nível de vínculo que algumas pessoas desenvolvem com os bebês reborn. Há casos de donos que os levam em carrinhos para passeios, vestem roupas de bebê, compram mamadeiras e realizam “cuidados” diários como se fossem crianças reais.
Para alguns, os reborn têm função terapêutica. Mulheres que sofreram perda gestacional, idosos solitários ou pessoas em tratamento psicológico podem encontrar conforto no contato com os bonecos. Algumas clínicas, inclusive, recomendam o uso terapêutico em quadros específicos, como demência.
Quando o afeto vira obsessão
O problema começa quando o afeto ultrapassa os limites da fantasia. Psicólogos relatam casos de pessoas que desenvolvem apego excessivo aos bebês reborn, tratando-os como filhos substitutos, o que pode ser sinal de um transtorno psicológico não tratado.
O apego patológico pode esconder traumas, lutos não elaborados ou carências emocionais profundas. Assim quando o uso terapêutico é orientado por um profissional, os benefícios são claros. Mas quando não há acompanhamento, há risco de isolamento social, dificuldade de distinguir realidade e fantasia, e até recusa em lidar com relações humanas reais.
Afinal, doença ou solução?
Por fim é importante entender que os bebês reborn, por si só, não representam uma doença. O problema está na forma como são usados. Como qualquer ferramenta emocional, seu impacto depende da pessoa, do contexto e do acompanhamento adequado.
Enquanto para alguns são simples bonecos, para outros são válvulas de escape ou companheiros de uma dor invisível. Logo o debate continua aberto: arte, brincadeira, terapia ou sintoma? Talvez, um pouco de cada coisa.